SANTINHA
Queria ser santa, santa mesmo, santinha porque era pequena.
A família muito religiosa, contava histórias de santos, histórias de encher a imaginação, ela ardia de desejos. Já se via no altar, sua vida contada e recontada era exemplo, inflamava jovens corações. Ela alimentava e respirava religião.
Por ocasião da primeira comunhão, com seu vestido branco, o véu, a vela acesa levitava. Perto do céu longe da terra, seu espírito vagava, agora mais íntima de Jesus.
A mãe ensinou, o vestido branco representa a pureza, qualquer pecado é uma mancha escura no branco. A menina guardou: o branco, a pureza, assim seria sempre. Era só conservar o vestido branco que virava santa.
A infância avançava e ela vigilante, corria e brincava na calçada com outras crianças, mas atenta, seria santa, queria seu vestido branco, imaculado.
Ora todos sabem que quando o capeta tenta a faca entra. Por mais que vigiasse, acontecia brigar com os irmãos, então tonta de terror, corria para o quarto, tirava a caixa do armário, com os olhos fechados queria ver, queria não enxergar, abria devagarinho, devagarinho a caixa, o vestido ainda branco. Deus a perdoou.
Rezava, repassava os dez mandamentos, sabia-os de cor. “Não vou mais pecar.”
Os adultos incentivavam: “Que gracinha! Uma santa na família.”
Os irmãos debochavam.
O tempo passou, um dia depois do outro e Sônia sonhando em ser santa. Mas os hormônios, quem pode com eles, explodiram e mudaram o seu querer.
Queria namorar, ter um namorado e amar. Sônia sonhava com um príncipe encantado ou não. E amou.
O seu primeiro amor, platônico, ele nem ficou sabendo. Amou de longe. Suspirava, escrevia poemas que nunca enviava, cruzava com ele pelas ruas e olhava, olhar comprido, coração disparado. Até que mudou de paixão.
O seu primeiro amor, platônico, ele nem ficou sabendo. Amou de longe. Suspirava, escrevia poemas que nunca enviava, cruzava com ele pelas ruas e olhava, olhar comprido, coração disparado. Até que mudou de paixão.
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