ADMIRÁVEL MUNDO NOVO
A vida é um instante. E o instante existe. O futuro é hoje.
Quando li “Admirável mundo novo”, pensei num futuro distante, mas o futuro é hoje. O futuro distante está dentro do instante que é a minha vida. E eu acho normal. Acho normal câmeras vigiando, normal ser vigiada dia e noite. Normal ser rastreada pelo cartão de crédito, pelo computador com todos os meus dados, pelo GPS no carro, no passaporte, nos documentos, nas pessoas.
Sou vigiada noite e dia, também fico em vigília vigilante. Já não sei se sou eu que vigia ou o vigia que me vigia. Tudo normal, cada vez desejo mais vigilância. Vigilância para quê? Onde ela me leva? O que quero saber?
Não sei mais quando relaxar, quando me entregar. Perdi o contato com as coisas simples da vida, saborear o cotidiano todos os dias do ano. Ser um anônimo invisível.
Ver o dia amanhecer, não posso é perigoso.  Perigoso também é o entardecer. A multidão é perigosa, a solidão é um perigo. Ficar em casa pode ser perigoso, sair nem se fala, é perigosíssimo. Assim de perigo em perigo, vivo perigosamente e perigo deixar de viver.
O’ medo medonho, medo moderno! Para isso eu pago para ser vigiada, para ser encontrada, mesmo que me desencontre na vida, da vida, em vida do instante que é a vida.
Faço hoje o que não pensava ser possível. Vivo a ficção científica dos livros. Vivo a realidade da ficção científica. Meu tempo é agora e não quando. O futuro está presente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário